
Não existe nada mais permanente que uma gambiarra provisória. Esse ditado popular encontra lugar na análise dos fatos que compõem uma das maiores tragédias da história do futebol brasileiro. O incêndio que vitimou um grupo de jovens atletas em fevereiro de 2019, no alojamento do Ninho do Urubu, Centro de Treinamento do Flamengo, expôs falhas e o que é prioritário, na compreensão de alguns dirigentes. A postura dos representantes da equipe rubro-negra, nesse episódio, foi bastante contestada, desde o início. E passados seis anos, familiares aguardam na justiça a responsabilização dos culpados.
Parte do catálogo da Netflix desde 2024, O Ninho: Futebol & Tragédia detalha os bastidores de um caso revoltante. A história dos dez adolescentes que morreram dentro de um contêiner usado como dormitório pelos atletas da base do time carioca, é permeada de detalhes comuns nos casos em que vidas se perdem pela falta de atenção às ações preventivas. A série, em três episódios, é baseada no material oriundo de reportagens do UOL, que foram essenciais para expor as irregularidades na manutenção daquele espaço. A ausência de alvarás, certificações dos bombeiros e o descumprimento de alertas feitos pelo poder público, revelaram que multas e notificações quanto aos riscos da continuidade do uso daquelas instalações, ditas temporárias, foram ignoradas. Ao longo dos meses e anos que sucederam esse fatídico dia, medidas de conciliação deram lugar a estratégias para gerenciamento de crise, empurrando decisões a respeito de questões indenizatórias para fora da mesa. Nos relatos dos pais que viram os sonhos desses jovens surgirem em quadras e campinhos pelo país, a frustração quanto a postura da agremiação de quase 130 anos, que possui um dos centros de treinamento mais modernos da América do Sul, soma-se a dor pela partida prematura de seus filhos.
No último dia 11 de maio, após ouvir mais de quarenta testemunhas em mais de três anos, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, se posicionou pela condenação de sete acusados no processo. Entres os os listados, estão ex-diretores do Flamengo e engenheiros responsáveis pela fabricação, instalação e manutenção dos contêineres.