
Por Henrique Pinheiro – Economista e produtor executivo do documentário Terra Revolta -João Pinheiro Neto e a Reforma Agrária – Colunista convidado. Todos os documentos sobre a Reforma Agrária, que circularam entre o gabinete do ex-presidente João Goulart, a chefia do gabinete civil da presidência da República, de Darcy Ribeiro e a presidência da Superintendência da Reforma Agrária, liderada por João Pinheiro Neto, foram guardados por minha mãe, Leda Pinheiro, depois que meu pai morreu.
O decreto da Supra, elaborado por meu pai, a troca de mensagens com Jango e outros personagens da política brasileira nos anos 60, recortes de jornais, fotografias, tudo isso se tornou um precioso acervo sobre a Reforma Agrária, preservado por Leda Pinheiro.
Minha mãe, Leda Pinheiro, nasceu em 1940, em Florianópolis, Santa Catarina, em uma família de raízes gaúchas.
Meu avô materno, Henrique D’Avila, era um advogado que se tornou Ministro do Tribunal Federal de Recursos, hoje STJ.
Leda tinha apenas 16 anos quando se mudou com a família para o Rio de Janeiro. Ela ingressou no Científico e logo se destacou pela beleza.
Foi convidada a desfilar nos eventos patrocinados pela pela Fábrica de Tecidos Bangu, do querido Guilherme da Silveira.
Em um desses desfiles, minha mãe conheceu o meu pai, João Pinheiro Neto. Ele, aos 28 anos, se apaixonou pela linda moça de olhos verdes.
Pelo lado materno, João Pinheiro Neto era neto de um industrial, homem de negócios catalão, Baldomero Barbará , fundador da Metalúrgica Barbará, que deu origem aos tubos de ferro fundido conhecidos até hoje como barbará .
O casamento de meus pais foi um evento grandioso, na capela da Reitoria da UFRJ, na Praia Vermelha.
Dona Sarah e Juscelino Kubitschek, presidente do país naquele final dos anos 50, foram os padrinhos de casamento dos meus pais.
Meu pai foi convidado por Luiz Simões Lopes, presidente da Fundação Getúlio Vargas, para dar aulas de Administração Pública. E, ganhou uma bolsa de estudos, na Sorbonne, pela FGV.
De volta ao Brasil, meu pai começou a escrever para a Última Hora. João Pinheiro Neto havia estado na URSS, depois que terminou seu curso, em Paris, pela FGV.
Com o apoio de Simões Lopes, João Pinheiro Neto lançou um livro sobre a URSS e, além de escrever na Última Hora, passou a participar dos programas de Gilson Amado, na TV Educativa.
Nos anos 60, o mundo se dividia entre os Estados Unidos e a URSS. E, no Brasil, o país também se debatia entre o capitalismo e o socialismo.
A renúncia de Jânio Quadros, apoiado pela UDN, e a difícil posse de João Goulart marcaram um momento crucial na história do Brasil.
Minha mãe, apesar de jovem e com dois filhos, começava a se dar conta da importância de meu pai, no cenário político e social país.
Graças ao carinho de minha mãe, depois que meu pai foi preso, em 1964, todas as cartas trocadas entre ele e ela, na prisão , foram guardadas.
Quando meu pai morreu, o acervo sobre a Reforma Agrária ficou ali, guardado por Leda Pinheiro.
É muito importante que a memória da história brasileira seja preservada. E, propagada.




