
Foi inaugurada a exposição Manguezal no quarto andar do CCBB-RIO.
A curadoria é de Marcelo Campos, que realizou a seleção de artistas e suas respectivas obras de forma acertada, e organizou de forma didática o conjunto de produções sobre os manguezais, construindo uma narrativa clara, didática e de fácil compreensão.
A exposição é inspirada no livro homônimo Manguezal editado no ano de 2023 pela Andrea Jakobsson Estúdio, produzido em parceria com a Cátedra UNESCO do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Tem a organização de Alexander Turra e fotografias de Enrico Marone. A publicação integra a coleção dedicada à Década do Oceano (2021–2030).
A produção é da Andrea Jakobsson Estúdio.
No hall do CCBB-RIO, no andar térreo, visualizamos a bonita e criativa instalação Vermelho-Mangue, criação de Gabriel Haddad e Leonardo Bora, em que impera o tom vermelho, inspirado na árvore mangue-vermelho e na coloração de crustáceos, como o caranguejo aratu.
A instalação é acompanhada por quatro protótipos de fantasias da Grande Rio 2026, criadas por Antônio Gonzaga, integrantes do enredo A Nação do Mangue.
Portanto, o início da exposição se dá com uma leitura carnavalizada dos mangues.
Ao subirmos ao quarto andar, avistamos um portal com inúmeras patas de caranguejo, principal espécie que habita os mangues.
Ao adentrarmos na exposição, a mesma se inicia de forma imersiva com um filme sobre uma área do ecossistema manguezal, e um conjunto de fotografias de Enrico Marone retratando os elementos constituintes do mangue.
Passado este primeiro momento, observamos o texto da exposição, e um filme narrado pelo curador Marcelo Campos explicando a mostra.
A seguir, passamos a observar as diversas formas como o mangue foi retratado por diversos artistas brasileiros. Foram expostas fotografias, gravuras, desenhos, esculturas, obras tridimensionais, instalações e vídeos que apresentam representações do ecossistema.
O artista Lasar Segall retratou a zona do Mangue em suas produções artísticas, imagens que integram o livro Mangue (1944). A chamada “Zona do Mangue” era o espaço de encontro de intelectuais, compositores, sambistas e meretrizes.
Em sequência, passamos para a parte que retrata os manguezais como fonte de alimento, trabalho e sustento das famílias.
Observamos um vídeo com uma apresentação de um show das ganhadeiras de Itaipú, que retiram do seu canto e dos tradições ancestrais o seu sustento.
Visualizamos as fotografias de Maureen Bisilliat que retratam as populações dos manguezais na lama retirando caranguejos para a sua alimentação e sustento. Bem como um fac-símile de um desenho de Carybé retratando um pescador.
A lama do manguezal também é relacionada aos mitos de origem sobre os primeiros seres humanos. Nas religiões de matriz afro-brasileira, acredita-se que viemos da terra, da lama cedida por Nanã, divindade que habita os pântanos e manguezais. Ela empresta a matéria para que Oxalá possa moldar os humanos.
Da lama dos manguezais é retirada a argila para a produção da cerâmica. Diversas produções de cerâmica integram a exposição.
A preservação do ecossistema, em função da diversidade de espécies de animais e vegetais, também é um tema tratado. O conservacionismo integra a exposição.
Bonito conjunto de fotografias de Uýra Sodoma que integra este setor da mostra.
As habitações das populações dos manguezais se fazem presentes nas fotografias de Marcel Gautherot, todas em preto e branco. As chamadas palafitas, habitações construídas sobre as águas do manguezal, são retratadas nas imagens.
Criativas as produções de Ygor Landarin feitas com areia rosa, fragmentos de conchas e cola PVA sobre bordado de lã.
Visualizamos também a escultura feita de alumínio e cabo de aço intitulada Vertebral, de Marcone Moreira, colocada sobre uma tábua no chão.
E do mesmo artista, a escultura em madeira policromada, em tons azul e branca, intitulada Margem.
Percorremos a exposição ao som de uma música com seus batuques e o pedido para cuidar dos manguezais. Tem siri, caranguejo e maré! Tem que cuidar!
A falta da exposição reside na não menção à cientista Marta Vannucci, uma das maiores estudiosas do ecossistema, com trajetória nacional e internacional reconhecida. Marta estudou os manguezais do Brasil, das Américas e da Ásia, e defendeu a sua conservação porque a sua destruição afeta diretamente a vida humana na Terra. A exposição seria um momento oportuno e adequado para lhe homenagear. Ela foi uma produtora de conhecimento sobre a referida formação vegetal.
A exposição é simples, bem organizada, podendo ser vista por um público amplo. Apresenta uma significativa produção de conhecimento sobre os manguezais, bonitas fotografias, criativas produções de cerâmica, e deixa transparecer que o manejo do ecossistema é ancestral.
Ótima produção de artes plásticas!




