
O meu convidado dessa semana é querido por 10 em cada 10 pessoas. Seu sorriso e seu molejo viraram sua marca registrada. Claro, estou falando do coreógrafo e bailarino Carlinhos de Jesus. Num papo alegre e contagiante, Carlinhos revela que por sua habilidade em dançar, já aos 8 anos de idade fazia sucesso e era disputado pelas meninas nas festas. Ele lembra de quando pediu ao pai para ser matriculado numa escola de dança e acabou numa escola de jiu-jítsu. Sua trajetória profissional é coroada com momentos marcantes como o sucesso com a comissão de frente da Mangueira, em 1998, e sua participação no Rock in Rio. Confira!
JP- Olá Carlinhos de Jesus! Você é carioca. Em qual bairro você nasceu? Sua família? Estudos primários?Sou carioca da gema, nasci no bairro de Marechal Hermes na Maternidade Alexander Fleming e vivi até os 25 anos no bairro de Cavalcanti, ambos
JP- Como se deu a sua formação no campo da dança? Quais os seus principais mestres? O profissional Carlinhos de Jesus surgiu acidentalmente, há 40 anos, na casa do grande jornalista carioca Sergio Cabral. Fui convidado a dar aulas para um grupo de amigos, jornalistas e artistas e não parei mais. Os convites se sucederam para inicialmente apresentações de dança e após coreografias para cinema, TV, teatro, espetáculos, carnaval. Abri uma Escola de Dança e posteriormente criei a Cia de Dança que levam o meu nome. No inicio de tudo tinha 27 anos e era funcionário público. Me formei Pedagogo e exercia a profissão. Graças a Pedagogia, criei uma didática para a dança. Acreditei na sua dignificação, lutei contra os estereótipos e preconceitos, e segui em frente. Minha carreira como professor e dançarino deslanchou. Quando optei efetivamente pela dança como meio de sobrevivência, há 35 anos, a dança de salão era considerada lazer, atividade social, não era considerada uma profissão, a sociedade da época acreditava que a pessoa deveria ter um emprego formal e a dança seria um hobby ou uma segunda opção profissional. Já trabalhando com a dança pude ter o contato com grandes nomes como MARIA ANTONIETA, REGINA MIRANDA, ELBA RAMALHO, ANA BOTAFOGO, MARCELO MISAILIDES, HELIO BEJANI entre outros, que me trouxeram uma outra visão da dança. JP- No campo da dança, qual é a sua principal especialidade? Justifique. Sou um dançarino popular. Minha especialidade é a Dança de Salão. Acho que posso dizer que me destaco no SAMBA devido a minha história de vida. Morava em Cavalcanti, vizinho da Escola de Samba EM CIMA DA HORA, ali era o meu quintal. Dormia embalado pelo som da batucada dos ritmistas da Escola. Cresci no mundo do SAMBA.
na zona norte do Rio de Janeiro. Meu pai era funcionário publico e minha mãe “dona de casa”. Tenho duas irmãs, Dayse um ano mais velha, e Eleusa seis anos mais nova. Meus estudos primários foram em Cavalcanti nas Escolas públicas: Espirito Santo e Frei Leopoldo. JP- Quando você começou a se interessar pela dança? A dança sempre fez parte da minha vida. Minha mãe contava que desde os quatro anos vivia imitando os adultos, e chamava atenção pelas minhas performances. Estou com setenta anos. Então danço a pelo menos sessenta e seis anos (risos). Me lembro que desde os oito anos era disputado pelas damas nas festas. Claro que não imaginava que teria a dança como profissão. Nunca frequentei academia de dança. Criei meu estilo observando grandes dançarinos do subúrbio Carioca. Ainda pequeno, nove anos, tentei pedir ao meu pai pra me matricular em uma Escola de Dança, mas ele ficou irado e me matriculou em uma Escola de jiu-jítsu. Sou da época que havia muito preconceito com homem dançando.
JP- No carnaval, há um antes e um depois do desfile das Escolas de Samba de 1998, quando você coreografou a comissão de frente da
Estação Primeira de Mangueira. Vc arrebatou todos os prêmios, conquistou as notas máximas, e acelerou o processo de transformação do quesito. Você coreografou com passos de dança propriamente dito. Comente sobre aquela comissão de frente. A comissão de 1998 foi um marco na minha vida. Ali surgia um “novo CARLINHOS DE JESUS”. Graças a presidência da Mangueira, precisamente Elmo José dos Santos que aceitou a minha ideia para a comissão de frente em homenagem a CHICO BUARQUE DA MANGUEIRA, pude realizar uma coreografia com muita dança e teatralizada. Foi um sucesso. A partir daí e por mais quinze anos na Mangueira, fiz muitas coreografias diferentes sempre graças ao apoio e cumplicidade da Escola e dos carnavalescos. JP- O que é ser coreógrafo? O que define um coreógrafo? Ser coreógrafo significa experiência, muita prática na dança para se conceber apresentações e performances. O que define um coreógrafo é a sua capacidade de apresentar uma composição estética e expressiva dos movimentos corporais. JP- No ano de 1991, você foi o único dançarino popular com participação especial no Rock in Rio daquele ano. Como foi essa experiência? Na verdade, no Rock in Rio, foi uma participação no Show de Elba Ramalho. A experiência foi uma emoção indescritível. Primeiro um frio na barriga sem entender muito o que seria a receptividade da plateia, afinal eram fãs de ROCK… A Elba estava levando um show popular, e eu ali dançando gêneros populares, ficamos esperando copos de água e vaia, mas qual não foi a surpresa, fomos ovacionados, aplaudidos e sai dali com a certeza de ter levado a dança popular com dignidade para o reduto do rock in roll. JP- Quais as atividades que você realiza na Casa de Dança Carlinhos de Jesus? Hoje, além de aulas dos gêneros de dança de salão, trabalho também com o PIN Artístico (Performance, Interpretação e Naturalidade) atendendo atores, cantores, artistas em geral. JP- Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma mensagem para os seus fãs. Meu projeto futuro é colocar o SAMBA DE GAFIEIRA como patrimônio imaterial brasileiro e futuramente quem sabe mundial. Tenho também um projeto para colocar a dança de salão acessível ao publico em geral… Minha mensagem aos fãs: A pessoa que dança é mais desinibida, tem mais facilidade de entrosamento e tem mais postura. Acho que estes atributos são fundamentais para o cidadão na sociedade moderna. Hoje não adianta só o desenvolvimento intelectual, o profissional vitorioso é aquele que também cuida da sua saúde física e mental.