
Estreou Pedro de Valdívia: la Gesta Inconclusa no âmbito da mostra teatral “Três histórias que mudaram a história”, residência artística da Companhia Tryo Teatro Banda, no teatro do CCBB RIO 3.
A coordenação geral e a curadoria é de Julio Adrião.
O texto de Francisco Sánchez e Tryo Teatro Banda é histórico, musical, poético, crítico, e denunciador. Mostra que o processo de colonização empreendido pelo europeu foi violento e usurpador. No caso toma como fato histórico o processo de conquista e invasão pelo colonizador espanhol Pedro de Valdívia, do território que hoje pertence ao Chile, até a sua morte em 1553, tendo como fio condutor as cartas que o conquistador espanhol enviou ao rei da Espanha Carlos V. Ele era ambicioso: queria riquezas. E, fundou cidades e criou fortes.
A região era o espaço dos nativos mapuches, que resistiram frente aos espanhóis. Os nativos, liderados por Lautaro, um jovem Mapuche e ex-subordinado de Valdivia, conseguiu resistir e matar Valdívia.
O texto recupera esse tom de enfrentamento dos povos originários. Eles não se submeteram passivamente e lutaram. Tanto que Valdívia foi morto numa das guerras, e seu coração arrancado e comido.
A narrativa é toda costurada por meio de músicas cantadas ao vivo, de forma poética e sentimental, com o manejo de instrumentos musicais, e intensa utilização de expressões corporais. Portanto, as musicas são partes constitutivas do texto. Texto e músicas estão interligados. Esse aspecto é o diferencial do espetáculo.
Ademais, também deixa transparecer uma capacidade de reflexão crítica profunda, ao questionar, problematizar a aventura colonizadora de Pedro Valdivia, um usurpador, saqueador e invasor que foi morto pelos nativos. Estes últimos também expressaram resistência, e não apenas passividade.
O elenco é constituído por três atores: Francisco Sánchez, Alfredo Becerra, e Diego Chamorro. Eles têm uma atuação de qualidade e notável. Eles interpretam os personagens, e expressam emoções. São cômicos, hilários, divertidos, sarcásticos, mas também trágicos. Eles cantam ao vivo e estão acompanhados por instrumentos musicais, fato que confere uma intensa musicalidade ao espetáculo, dando uma sonoridade incrível ao mesmo. Os “atores-músicos” apresentam uma linguagem poética, sensível, musical, que apela para a capacidade expressiva do jogral, fato que facilita a comunicação com o público. O gestual e as expressões corporais intensificam essa interação. Eles narram as histórias como se estivessem se apresentando num lugar público, com um público alargado, com uma linguagem ampla, acessível, utilizando gestos e expressões, e com um olhar crítico. Se movimentam intensamente pela ribalta, ocupando todos os espaços. São dinâmicos, ágeis, rápidos, versáteis, e eficientes. Eles estão alinhados, afinados, e entrosados. Portanto, o trio realiza uma apresentação arrebatadora, transbordando vontade, energia e vibração.
A direção é de Sebastián Vila que focou no texto, e deixou os atores-músicos a vontade sobre o palco, dando um dinamismo, uma versatilidade e uma musicalidade ao espetáculo, e imprimindo uma direção à atuação vibrante e contagiante dos atores.
Os figurinos criados são simples e corretos.
A cenografia criada é simples e adequada. Ela é composta por um conjunto de instrumentos musicais distribuídos de forma correta pelo palco, e uma mesa central onde ocorrem atuações, manuseio de bonecos, e outros elementos cênicos como terra, farinha de trigo, areia azul e bandeirinhas na montagem da Cordilheira dos Andes, rios e cidades fundadas por Valdivia.
A iluminação criada por Tomás Urra é simples, imperando tons amarelo e azul, e contribuindo para realçar a interpretação dos atores de seus personagens.
A peça teatral é uma verdadeira aula de história, apresentando um olhar crítico sobre o personagem, por meio de uma linguagem acessível e musical. Alunos dos ensinos fundamental e médio, bem como professores de história, constituem um público potencial da encenação. E todos aqueles que se interessam pelo conhecimento dos fatos e acontecimentos históricos da América Latina.
Pedro de Valdivia é um espetáculo teatral que tem a música como elemento central da sua dramaturgia; o texto é que é crítico, reflexivo e poético; e, um elenco com uma atuação de qualidade e notável.
Excelente produção cênica!