

A condenação do núcleo central do bolsonarismo pelo Superior Tribunal de Federal , que alcançou também o ex-presidente Jair Bolsonaro, constitui um marco na história política brasileira.
Não se trata apenas de um episódio jurídico ou de um ajuste de contas com um governo marcado por violações institucionais, mas de um acontecimento que explicita os limites do liberalismo e o desgaste profundo das instituições construídas desde a Constituição de 1988. O julgamento revela a tentativa de reafirmar a legitimidade do sistema de justiça num contexto de crise de confiança popular, mas, ao mesmo tempo, expõe as fissuras e contradições que tornam o Judiciário vulnerável à ofensiva de extrema-direita.
Nesse cenário, o voto divergente do ministro Luiz Fux não pode ser interpretado como mero detalhe técnico. Ele se converte em sinal político, reforçando a narrativa bolsonarista de que as instituições estão corroídas e seletivas, abrindo espaço para a sua desmoralização e para a possibilidade de um rearranjo autoritário do Estado.
O efeito desse gesto é mais amplo do que aparenta: Fortalece a coesão interna do bolsonarismo, mantém viva a moral de sua base social e, ao mesmo tempo, aprofunda o desgaste do Judiciário perante a sociedade. A cada fissura pública, a cada contradição entre ministros, a extrema-direita encontra combustível para sustentar a tese de que apenas uma ruptura institucional poderá oferecer estabilidade. O voto de Fux, portanto, opera como engrenagem de um processo que fragiliza ainda mais as instituições liberais brasileiras, já enfraquecidas pela crise estrutural do capitalismo em sua versão periférica.
A extrema-direita brasileira não se contenta com projetos de governo. Sua ambição é a construção de um projeto de poder, estrutural e de longo prazo, que objetiva remodelar o Estado em bases autoritárias. Esse projeto tem como sustentáculo o rentismo, o agronegócio e setores militares, compondo uma frente que se legitima como alternativa revolucionária no sentido formal, mas profundamente reacionária em seu conteúdo. Diante da incapacidade do modelo liberal de gerar crescimento e inclusão, o autoritarismo aparece como estratégia de sobrevivência do capital em tempos de estagnação e crise. Assim, o Brasil se vê diante de uma encruzilhada: ou mantém uma institucionalidade liberal corroída e incapaz de oferecer respostas às demandas sociais, ou abre espaço para que forças autoritárias apresentem suas “soluções” de ordem e repressão.
Esse processo interno se conecta diretamente ao tabuleiro internacional. As pressões externas vindas dos Estados Unidos, sobretudo durante e após o governo Trump, alimentam e financiam a retórica da extrema-direita brasileira. O alinhamento discursivo, as redes de financiamento indireto e a legitimação simbólica operam como estímulo para a erosão institucional. Ao mesmo tempo, a posição estratégica do Brasil na nova divisão do cenário mundial coloca o país no centro de tensões geopolíticas. De um lado, a ascensão da China, a presença assertiva da Rússia e a ampliação dos BRICS sinalizam um horizonte multipolar que atrai setores da diplomacia e da economia brasileiras. De outro, a manutenção da hegemonia norte-americana exige que o Brasil continue atrelado a uma posição subalterna, servindo como tampão para a expansão de forças que desafiam a ordem ocidental.
É nesse cruzamento entre crise interna e disputas globais que o bolsonarismo se alimenta. O enfraquecimento do STJ e de outras instituições do liberalismo nacional não é um efeito colateral, mas parte do programa estratégico que busca criar as condições para um novo Estado autoritário, capaz de controlar a sociedade pela repressão e pela manipulação da crise.
O efeito desse gesto é mais amplo do que aparenta: Fortalece a coesão interna do bolsonarismo, mantém viva a moral de sua base social e, ao mesmo tempo, aprofunda o desgaste do Judiciário perante a sociedade. A cada fissura pública, a cada contradição entre ministros, a extrema-direita encontra combustível para sustentar a tese de que apenas uma ruptura institucional poderá oferecer estabilidade. O voto de Fux, portanto, opera como engrenagem de um processo que fragiliza ainda mais as instituições liberais brasileiras, já enfraquecidas pela crise estrutural do capitalismo em sua versão periférica.
A extrema-direita brasileira não se contenta com projetos de governo. Sua ambição é a construção de um projeto de poder, estrutural e de longo prazo, que objetiva remodelar o Estado em bases autoritárias. Esse projeto tem como sustentáculo o rentismo, o agronegócio e setores militares, compondo uma frente que se legitima como alternativa revolucionária no sentido formal, mas profundamente reacionária em seu conteúdo. Diante da incapacidade do modelo liberal de gerar crescimento e inclusão, o autoritarismo aparece como estratégia de sobrevivência do capital em tempos de estagnação e crise. Assim, o Brasil se vê diante de uma encruzilhada: ou mantém uma institucionalidade liberal corroída e incapaz de oferecer respostas às demandas sociais, ou abre espaço para que forças autoritárias apresentem suas “soluções” de ordem e repressão.
Esse processo interno se conecta diretamente ao tabuleiro internacional. As pressões externas vindas dos Estados Unidos, sobretudo durante e após o governo Trump, alimentam e financiam a retórica da extrema-direita brasileira. O alinhamento discursivo, as redes de financiamento indireto e a legitimação simbólica operam como estímulo para a erosão institucional. Ao mesmo tempo, a posição estratégica do Brasil na nova divisão do cenário mundial coloca o país no centro de tensões geopolíticas. De um lado, a ascensão da China, a presença assertiva da Rússia e a ampliação dos BRICS sinalizam um horizonte multipolar que atrai setores da diplomacia e da economia brasileiras. De outro, a manutenção da hegemonia norte-americana exige que o Brasil continue atrelado a uma posição subalterna, servindo como tampão para a expansão de forças que desafiam a ordem ocidental.
É nesse cruzamento entre crise interna e disputas globais que o bolsonarismo se alimenta. O enfraquecimento do STJ e de outras instituições do liberalismo nacional não é um efeito colateral, mas parte do programa estratégico que busca criar as condições para um novo Estado autoritário, capaz de controlar a sociedade pela repressão e pela manipulação da crise.
A condenação de Bolsonaro, embora juridicamente significativa, não encerra esse processo. Pelo contrário, pode intensificar a narrativa de perseguição e de martírio político que mantém a extrema-direita mobilizada.
Outro elemento central nesse processo é o papel do chamado centrão. Esse bloco heterogêneo, marcado pelo pragmatismo e pela negociação fisiológica, opera como mediador entre a lógica do Estado e os interesses imediatos de frações do capital. Seu funcionamento é a expressão do que se convencionou chamar de “capitalismo de compadres”: Um sistema de alianças, favores e distribuição seletiva de recursos públicos que mantêm a engrenagem política em movimento. Esse arranjo, embora aparentemente estabilizador, carrega em sua própria pelagem uma ambiguidade peculiar. Ao mesmo tempo em que preserva a governabilidade mínima, pode facilmente se deslocar para apoiar soluções autoritárias, desde que essas garantam a continuidade dos privilégios e a reprodução de suas práticas. Assim, o centrão, longe de ser antídoto contra a extrema-direita, pode converter-se em sua ponte para a ruptura com o Estado de direito democrático.
O que se revela, portanto, é a fragilidade da institucionalidade liberal em um capitalismo periférico incapaz de entregar estabilidade econômica e inclusão social. O liberalismo brasileiro, já desgastado pela estagnação, pela desigualdade e pela incapacidade de enfrentar a crise climática e produtiva, vê-se corroído por dentro. E nesse vazio, a extrema-direita se apresenta como alternativa, propondo uma ruptura que não aponta para emancipação, mas para a radicalização da barbárie.
Ainda mais grave, entretanto, é o fato de que as esquerdas brasileiras não conseguiram até agora oferecer uma saída emancipatória à altura da crise. Presas ao pacto de 1988 e à institucionalidade liberal já em franca decadência, limitam-se a administrar os escombros do modelo, sem questionar suas bases estruturais. Sob a ótica da crítica do valor, essa limitação é decisiva. Ao não romper com a lógica cega da mercadoria, com a centralidade do trabalho abstrato e com as categorias fundantes do capitalismo, a esquerda permanece refém da mesma forma social que diz combater. Esse vazio estratégico abre terreno para que o autoritarismo se apresente como única alternativa diante do colapso.
Outro elemento central nesse processo é o papel do chamado centrão. Esse bloco heterogêneo, marcado pelo pragmatismo e pela negociação fisiológica, opera como mediador entre a lógica do Estado e os interesses imediatos de frações do capital. Seu funcionamento é a expressão do que se convencionou chamar de “capitalismo de compadres”: Um sistema de alianças, favores e distribuição seletiva de recursos públicos que mantêm a engrenagem política em movimento. Esse arranjo, embora aparentemente estabilizador, carrega em sua própria pelagem uma ambiguidade peculiar. Ao mesmo tempo em que preserva a governabilidade mínima, pode facilmente se deslocar para apoiar soluções autoritárias, desde que essas garantam a continuidade dos privilégios e a reprodução de suas práticas. Assim, o centrão, longe de ser antídoto contra a extrema-direita, pode converter-se em sua ponte para a ruptura com o Estado de direito democrático.
O que se revela, portanto, é a fragilidade da institucionalidade liberal em um capitalismo periférico incapaz de entregar estabilidade econômica e inclusão social. O liberalismo brasileiro, já desgastado pela estagnação, pela desigualdade e pela incapacidade de enfrentar a crise climática e produtiva, vê-se corroído por dentro. E nesse vazio, a extrema-direita se apresenta como alternativa, propondo uma ruptura que não aponta para emancipação, mas para a radicalização da barbárie.
Ainda mais grave, entretanto, é o fato de que as esquerdas brasileiras não conseguiram até agora oferecer uma saída emancipatória à altura da crise. Presas ao pacto de 1988 e à institucionalidade liberal já em franca decadência, limitam-se a administrar os escombros do modelo, sem questionar suas bases estruturais. Sob a ótica da crítica do valor, essa limitação é decisiva. Ao não romper com a lógica cega da mercadoria, com a centralidade do trabalho abstrato e com as categorias fundantes do capitalismo, a esquerda permanece refém da mesma forma social que diz combater. Esse vazio estratégico abre terreno para que o autoritarismo se apresente como única alternativa diante do colapso.
É urgente que a esquerda se desvincule do horizonte liberal, pois ele não tem mais condições históricas de tirar o país da crise. A crise mundial do capital já mostrou que não há retorno possível à estabilidade prometida pelo liberalismo. O desafio é trilhar novos caminhos, radicalmente distintos dos que esse modelo decadente ainda promete e não pode cumprir, caminhos que apontem para além do capitalismo e que resgatem a possibilidade concreta de emancipação social.
Imagem Pixabay