
Estreou O Pequeno Cientista Preto no teatro Sesc Tijuca.
A Idealização, obra original, texto e atuação é de Junior Dantas.
O texto de Junior Dantas é infanto-juvenil, ancestral, valoriza a ciência e o conhecimento, protagoniza os cientistas pretos, lúdico, e poético. Sublinha que o conhecimento pode ser produzido em outros espaços que não os convencionais, como o laboratório, a universidade, os museus, os hortos botânicos, entre outros. Elege como espaço de produção do conhecimento o quintal da casa de dona Zilda, avó de Zuni, mulher preta sábia, que tem muita sabedoria, transmissora de ensinamentos, especialista no manejo das folhas, sabendo extrair das mesmas diversas utilidades, como chá, perfume, temperos, produtos para banhos, cura de machucados, benzimentos, entre outras. O quintal da casa da avó é uma farmácia dos ancestrais, uma vez que a sabedoria vem das pessoas mais velhas, transmitida de forma oral, de geração a geração. Vó Zilda plantou a semente da ciência no coração do Zuni.
Zuni gosta de perguntar e ler. Ele anota tudo o que ele faz no seu caderninho. Ele tem a companhia de Kito, seu amigo imaginário, que juntos se aventuram na busca pelo conhecimento. Eles frequentam a biblioteca, onde pesquisam cientistas, e sonham ter um laboratório.
A biblioteca é o lugar onde Zuni e Kito encontram os cientistas. Ao pesquisar, eles acham diversos cientistas homens e mulheres pretos, que são importantes produtores de conhecimento, como Conceição Evaristo, Silvia Guimaraes, Jaqueline Góes, Rosemary dos Santos Isaías, Maria Beatriz Nascimento, Antonio Bispo dos Santos, Milton Santos, entre outros. São eles quem dão os conselhos para cuidar das plantas da vovó Zilda, uma vez que a ciência também está no quintal da sua casa. Não só nos livros nem no laboratório.
Junior Dantas protagoniza Zuni, o pequeno cientista preto. Ele interpreta, canta, dança e emociona. Domina o texto, passando com uma linguagem simples, que alcança a todos, sobretudo ao público infanto-juvenil. A plateia está repleta de estudantes da rede pública que observa e interage com o ator. Domina o palco, se movimentando intensamente e preenchendo todos os espaços. Tem uma boa comunicação com o público, estimulando-o a participar e tendo o retorno. Portanto, uma boa atuação e merecedora de elogios.
A direção é de Débora Lamm que focou no texto, e deixou o ator a vontade para realizar a correta interpretação de Zuni, o rapaz que gosta de perguntar, ler, experimentar e manejar as plantas.
A direção de Movimento é de Denise Stutz, que imprimiu ao ator uma movimentação intensa e resultou na ocupação pelo mesmo de todos os espaços do palco.
O figurino criado por Carla Costa é de bom gosto, adequado e facilita a movimentação do ator pelo palco.
A cenografia criada por Cachalote Mattos é criativa e bem confeccionada. Ela é constituída por duas árvores cenográficas, e um elemento cenográfico, que ora funciona como a casa da avó Zilda, ora como máquina do tempo.
Vovó Zilda aparece na forma de boneco, confeccionado pelo bonequeiro Dante, cujo trabalho é um primor.
A iluminação de Brisa Lima é boa, apresenta diversos tons, e contribui para realçar a interpretação do ator de seus personagens.
A direção musical é de Muato, que demonstrou capacidade em organizar as canções que integram o espetáculo, canções que sâo ricas em conteúdo, com letras que ajudam no entendimento da peça, e apresentam boas melodias e agradáveis sonoridade.
O espetáculo é para um público amplo, más sobretudo para os estudantes do ensino fundamental e médio, uma vez que valoriza o conhecimento e as diversas formas de obtê-lo. No caso, o conhecimento das plantas por meio de um saber ancestral.
Excelente produção infanto-juvenil cênica!



